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Patricia Gerber e A Origem do Feminino.

        No trabalho de Patricia Gerber o corpo da artista é matéria e investiga as várias facetas do feminino, que vai de sua essência até o feminino como código e regras comportamentais que mói a carne da mulher e a faz se submeter a auto flagelações físicas e psicológicas, muitas vezes impondo-lhe uma posição subalterna perante os homens, um “segundo sexo” na palavras de Simone de Beauvoir. A artista, por meio do seu trabalho nos coloca a pergunta: quando nos tornamos mulheres? Em que momento este ser que nasce igual aos outros percebe que é mulher?

 

        Geralmente a resposta para esta pergunta se apresenta por meio da dor. Por meio de um apagamento, como no caso do trabalho “Voltar ao Pó”, onde a artista cobre uma sala e o próprio corpo com cal, material utilizado para encobrir os corpos expostos em estado de putrefação no período do Holocausto, comentando assim sobre este apagamento da mulher que vai sendo cerceada, muitas vezes dentro deste ambiente que é a própria casa, acabando por se tornar uma “Mulher Fantasma”. (https://mulherfantasma.blogspot.com/)

 

        A reconstrução da memória desta mulher vai sendo contada por meio dos cacos da louça da avó, da demarcação de território que vai sendo promovida pelo próprio corpo desta mulher em ação, quiçá uma tentativa de fertilizar o ambiente e alcançar outras mulheres e espalhar este “Vermelho”, promovendo reflexões a cerca da mulher que sangra todo mês, da mulher que aborta e até mesmo das várias mulheres que sangram por outros motivos como a violência física de companheiros que todas as mulheres, cis e trans podem sofrer.

 

        A roupa, este invólucro que historicamente foi usado como forma de conter esta mulher é muitas vezes utilizada por Gerber, tanto como tela de projeção para mostrar os abusos e as dores que estão por debaixo destas vestes, também como matéria que vai sendo manipulada, costurada e queimada, de maneira a expor estas cicatrizes e trazer à superfície a voz sufocada de todas as mulheres, pois a artista nos demonstra que apenas na coletividade, nas muitas Patricias, Marias, Helenas e Joaquinas é que poderemos verdadeiramente alargar os nossos horizontes e conquistas o nosso espaço. 

Katia Fiera, Em residência Pandemia 2021.
 

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